quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Adérito sai da rotina

(Joseph Alleman)

O Sr. Adérito prova a alheira frita que acabaram de lhe servir. Na sua frente as folhas da palmeira brilham à luz do luar como se estivessem molhadas, o pouco vento da noite fá-las balançar deslocando os brilhos, ora para baixo, ora para cima e para os lados, quando se reflectem uns, apagam-se os outros. Depois de se concentrar neles, por momentos, já não trazem nada de novo. Adérito está feliz! Hoje saiu da rotina, o que é sempre bom, pensa. Mas ao mesmo tempo sente a nostalgia do que deixou para trás. Não sabe definir com exactidão o porquê desses dois sentimentos tão contraditórios, afinal, dali a umas horas vai voltar para casa, agora pode aproveitar o facto de não lá estar.
Ao contrário da palmeira o Sr. Adérito pode mudar de lugar e até escolher qual dos lados do seu corpo é banhado pela luz do luar, vantagem de poder escolher onde pôr as suas raízes, razão mais do que suficiente para se sentir pleno, só não sabe que é o sabor da alheira, aquilo que o faz olhar para trás.

1 comentário:

  1. Este sou eu...

    Sou como sou! E nem melhor nem pior
    Do que a vulgaridade dos mortais
    Que à ambição de ser “maior” e “mais”
    Completo do destino de se impor.

    Abraço...

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